quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

O Paraíso é em Mogi (das Cruzes)

O mundo Kapital é, de fato, cheio de contradições ... se, por um lado, vivemos situações revoltantes e constrangedoras diariamente (como as descritas aqui), por outro, “as vezes, encontramos pérolas.
Mas, é claro ... tem que ter dinheiro ... rs. Se você tem uns 1.500 reais pra torrar em um fim de semana, curte esportes (principalmente golfe) e quer comer bem (comida de resort, o que chamo de “gourmet de rechaud” – nota 6,5 de média – o que é ótimo), o paraíso é em Mogi das Cruzes.
Não ... não estou fazendo propaganda ... mas, não dá pra não falar das coisas boas ... e abrimos espaço para uma discussão um pouco mais ampla.
Eu nunca liguei para dinheiro (talvez, por isso, eu esteja na merda). Isso nunca me seduziu. No entanto, tive oportunidades de levar uma vida toda pequeno burguesa (e nunca passei a perna em ninguém ... mas nunca pude pagar isso por mim mesmo). Sempre recebi convites ou presentes, como o deste final de semana em que Mamãe fez 70 anos e quis passar nesse resort, ou a viagem da qual nunca me esquecerei, um cruzeiro pelo Caribe (valeu, Tupi!).
Também viajei a trabalho, conhecendo outros países, até, como foi Porto Rico. A trabalho, tive mais piores momentos do que bons: os trabalhadores – mesmo os artistas – são tratados como gado, em quaisquer ocasiões. Essa vez de Porto Rico foi uma exceção que confirma a regra.
Sempre fui alguém que gostava de experimentar coisas e nunca perdi (pelo menos conscientemente) as oportunidades que a vida me ofereceu para aprender, degustar, conhecer coisas, por mais esdrúxulas que fossem. Assim, desenvolvi o que se pode chamar de “gosto aristocrático”.
Sim! Eu gosto de comer bem, tomar boas cervejas, ouvir música erudita, enfim, alguns até me consideram com um gosto refinado. Na verdade, quando muita gente diz que uma coisa é boa (como caviar, por exemplo) eu não vejo razão para não acreditar e experimento. E, é verdade: eu gosto de caviar.
Algumas pessoas, quando me conhecem, questionam isso, dizendo que esse meu gosto por coisas aristocráticas é contraditório ao meu discurso de esquerda (!). Eu, realmente, não entendo.
O mundo Kapital é um lugar em que a burguesia se apropriou de coisas por seu fetiche... a maioria que come caviar, tenho certeza, nem sente o sabor ... come, porque é coisa de rico. Enfim, querem “parecer” gente “de bem”, por isso torram fortunas em baladas, tomando champanhes a 2 mil reais a garrafa, sem ao menos entender do que se trata. ISSO é ostentação. ISSO eu não faço.
Minhas roupas são quase sempre de segunda mão (tenho um irmão que descarta muitas coisas que me servem), meu carro é sempre o mais barato, etc. Tenho infinitas provas dessa natureza para desmentir essa provocação.
O que me espanta, de fato, é que os paladinos do Kapital dizem que alguém que não gosta do capitalismo, também não deve gostar de coisas que existem nele e que custam dinheiro ou que mostrem esse “gosto aristocrático”.
Ora, é mais uma mostra da mente míope desses canalhas, que querem justificar sua safadeza, tomando coisas alheias. Eu não ferro com ninguém para ter acesso a essas coisas: acontece, como antes dito, ao acaso.
O golfe é um exemplo disso: criado por pastores escoceses, foi proibido para o povo, depois que a aristocracia se apropriou dele. E o que diríamos de hoje, em que burgueses que jogam muito pior que seus caddies, tem acesso a maravilhosos campos porque pagam um green fee exorbitante (em média, 250 por partida de 18 buracos).
A culpa de o golfe, por exemplo, não ser um esporte democratizado não é minha ou de comunistas, mas da burguesia, que rege o mundo Kapital. É incrivelmente fantasioso e altamente ideológico esse discursinho de que alguém anticapitalista tenha que ser pobre ou tomar cachaça, ao invés de cerveja.
Em um mundo verdadeiramente democrático, todos teríamos acesso à educação de qualidade que nos possibilitasse uma escolha futura; todos entenderíamos Arte (que é um bem humano inacessível até mesmo à ignorante burguesia, hoje em dia, que acha que entrar em um museu é conhecer arte), Música, Cinema, etc.
Mas não é isso que notamos. Mesmo o futebol, tão massificado pela mídia, não instrui ninguém. Nada substitui a consciência. Apenas uma pequena parte que consome futebol, entende do assunto.
Assim, digo claramente, a quem quiser ouvir: sou um burguês, não nego. Mas morro de vergonha. Bom café.

Um comentário:

João disse...

Aquela caricatura do Rodrigo Constantino iria babar nas suas declarações! kkkk... o tal idealizador da "esquerda caviar". Eu não sou de esquerda nem direita...me dou a liberdade de, conforme o assunto, sentar um pouco pra lá, ou um pouco pra cá. Não por mera conveniência, mas por uma certa ponderação. Tento aprender e apreender visões opostas para tentar construir um raciocínio individual. Sei lá...to começando a caminhada agora... Mas taí algo que concordo totalmente contigo. Há prazeres absolutos na vida que devem ser usufruídos em sua plenitude, como a arte e a culinária! Principalmente por aqueles que lhes dão o devido valor. Acho que os italianos sacaram isso há algum tempo! Os americanos, só a parte do usufruir, sem a plenitude. E nós, brazucas, vamos pular Carnaval!