sábado, 12 de dezembro de 2009

A Beira do Abismo

Bem ... no ano passado, eu escrevi um post no dia do meu aniversário ... nem me lembro dele.

Neste ano, nem tive vontade ... cheguei à beira do abismo: 39 anos. É ... já passei da metade.

Lembro-me que, quando eu ia chegar aos 30, fiquei neurótico no aniversário de 28. E me acostumei com a idéia dos 30. Mas é difícil me acostumar com os 40.

Eu ainda estou inteiraço - assim creio! - mas, nos último 10 anos, creio que produzi pouco: uma dissertação, que foi minha "obra-prima", mas que fechou as portas da "Universidade Democrática do Kapital" para um eventual doutorado. Lembro-me que fui escrachado na minha entrevista de doutorado em uma dessas de São Paulo (que pena que ninguém filmou!) ... não só me desprezaram como pensador, mas também como pessoa. Mas ficou claro: eles sabem que eu sei ...

As peças que escrevi, neste período, nunca ouvi. Mesmo aqueles que tocam tudo de todos, dizem que não podem tocar as minhas, porque não posso pagar o trabalho deles (o que está certo). E dizem que é difícil. O que concordo: fazer o novo não é fácil para ninguém.

Consegui (a duras penas) um emprego de professor em um lugar que adoro trabalhar, mas que acaba logo, por políticas capitalistas: quem não tem um X de horas, é mandado embora. Mesmo que o quadro seja minúsculo. Então, no fim de cada semestre, não se sabe se teremos emprego no próximo. É assim.

Chego aos 40 sem saber o que será do futuro. Mas isso não é privilégio meu: é de alguém que vive em um mundo em que o DINHEIRO e o PODER falam mais alto. O que conta é TER e não SER. Não importa se você é bom (também porque ninguém tem capacidade para julgar) e nem se você faz as coisas direito. Você tem que se enquadrar - aceitar os desígnios do KAPITAL.

E, cada vez mais, me dou conta que não há mesmo liberdade. Você tem que MATAR os seus colegas, para comer no mês que vem. Ainda que você os ame. É isso: no mundo Kapital, a gente é impedido de amar. E ninguém sofre com isso?

Uma pena. Mas, eu já cansei de passar mal com isso. Hoje, vivo um dia após o outro, mesmo sabendo que, daqui a 20 anos, minhas filhas terão ainda menos chances (muito menos) do que eu. Eu tive sorte. E ainda tenho. Elas ... não sei.

Chego à beira, constantando como verdades, o que já sabia antes ... mas, agora, o funil é ainda mas apertado. Olho meus alunos e vejo, neles, a falta de vontade de aprender, porque quem está nos postos mais altos das Universidades ou da Mídia, também pouco conhecem. Sabem fazer conchavos. E, se você não toma cuidado, eles querem fazer com você: os próprios alunos! Já me ofereceram um lanche por 1 ponto na média e coisas assim. Tenebroso! Mas seguem os exemplos do Mundo Kapital, ou não?

Eles sabem mais do que eu ... para que saber música? É muito mais fácil fazer conluios ... conseguir, na base da troca ilícita, o que se quer. Mas eu olho para trás e para frente, sabendo que vou deitar a cabeça no travesseiro e dormir, que poderei olhar nos olhos das minhas filhas e não ter vergonha.

Mas eu tenho certeza que esse "professores" que fecharam as portas de um lugar que deveria ser público também fazem isso. Porque ensinam essas práticas em casa. Criam seres com esse exemplo: novos canalhas.

Hoje, acabou o café ... talvez, por isso, eu esteja mais amargo. Um bom dia.