sábado, 15 de fevereiro de 2014

Educação Sustentável

Nos últimos estertores do mundo Kapital, eis que surge um novo termo: educação sustentável.
No entanto, como tudo neste mundo onde apenas o lucro (cuja origem remonta a logro) importa, fica ainda mais clara a intenção de gestores da coisa privada. E Marx, cada vez, tem razão.
A Instituição em que trabalho – por meio de sua mantenedora - decidiu fechar o curso de música, sendo este o último ano ... o fechamento da última turma.
É óbvio que meu emprego lá vai acabar, mas há, nisso, uma reflexão muito mais importante.
A faculdade funciona(va) na zona leste de SP, um local que carece de centros de formação, recreação e, principalmente, de oportunidades. Formamos músicos que conseguiram, alguns, carreiras sólidas formando pessoas, ganhando concursos e participando de eventos internacionais, com certo brilho. Chegou a ser o curso particular de música com nota 5 do ENADE. Depois de uma má vontade dos últimos a fazerem a prova quanto à infraestrutura do curso, caímos para 4 e não tivemos oportunidade de melhorar isso: no último ENADE, o curso não participou.
O curso promovia, ainda, através de programas para a comunidade, oportunidades para que as crianças tivessem formação musical através de aulas com nossos alunos, participassem de um excelente coro infantil, etc. Nada disso vale nem valeu aos Srs. Gestores. Nem mesmo a mídia indireta promovida pelo curso, através do sucesso de alunos acima descritos ou a realização de encontros, que elevaram o curso, equiparando-o aos mais famosos de universidades públicas, como a USP. Nossos alunos participaram com eles de eventos exclusivos, promovidos em conjunto.
É sabido que, em uma escola, o professor é o operário. Toda estrutura que se ergue, é paga com a mais-valia tirada de quem transforma o bruto em produto de consumo: no caso, um aluno ignorante em um ser letrado. Sustentabilidade, para eles, é ter o maior número de alunos para um menor número de professores: a comparação é sempre um curso, como direito administração, em que o pobre trabalhador lida com, ao menos, 100 alunos por sala.
Como música é algo restrito a quem tem uma formação anterior, esse número cai muito.
Fosse apenas o curso de música, talvez eu engolisse melhor. Mas, outros passam pela mesma situação, analisados por números frios que pouco dizem a quem, realmente, pensa educação e arte. Ou meus colegas de artes visuais e comunicação não estão passando pelos mesmo processos? – fechamento de turmas, de cursos “não-sustentáveis”, etc.
O que os gênios administradores do kapital não enxergam é o assassinato frio da galinha dos ovos de ouro. Vale a pena citar o curso de história, carro-chefe da excelência da instituição há anos, reduzido a curso a distância. Estão “limpando” o que lhes deu nome.
Sustentabilidade também quer dizer distribuição: manter o que importa, apesar de seu custo, que é reduzido, já que um curso de música é tocado com 4 professores, por exemplo. Mas não vale a pena, porque não gera capital direto. O resto, simplesmente não vale.
Como na antiga fábula, tenho a certeza de que essas mudanças, acarretarão, em pouco tempo, o fim dessa megaestrutura. Não lamento. E, realmente, como marxista, entendo que esse processo pelo qual passo hoje, é inevitável.
Onde vendem como excelência uma formação para o mercado, em que, cada vez mais os cursos universitários se parecem a cursos técnicos; em que dirigentes de instituições burguesas defendem uma educação para a indústria como a solução para os problemas brasileiros; em que a reflexão (que é o que deveria diferenciar um curso de terceiro grau de um técnico) é reduzida quase a zero, também pelo pouco tempo presencial em sala; e, finalmente e por tudo isso, o professor é visto pelo aluno como mero obstáculo para seu diploma, o fim só pode e deve ser esse.
Grande Marx!, onde quer que esteja ... bom café!

Um comentário:

Anônimo disse...

Papo de Café: Essas Olimpíadas de Inverno realmente me chamam atenção... é curioso ver que os pernas de pau do Canadá, que nunca foram para uma Copa (!), são os feras do Hóquei... que as mulheres, além de lindas, podem ser ótimas jogadoras de bocha (ou de seu primo rico) e que, em algum lugar do mundo, há temperaturas abaixo dos 35ºC, com níveis de água e esperança um pouco melhor que os nossos 20%. Mas, sem dúvida, a parte mais lírica é assistir aos patinadores e todas as suas piruetas, voltas e rodopios nos impressionantes balés clássicos. O Carlos Heitor Cony lança os créditos e rememora o famoso bailarino russo (nascido em Kiev) Nijinsky, que não podemos ter o prazer de visualizar no YouTube e curtir no Face, por motivos óbvios. Eu, talvez numa espécie de contraponto particular, acho provável e prefiro creditar (e acreditar, embora minha opinião não valha de nada) que esse sucesso é mérito, na verdade, de sua bela parceira, Anna Pavlola, que uma vez disse: “Embora alguém possa falhar em encontrar a felicidade na vida artística, ninguém desiste depois de já ter uma vez provado de seus frutos”. A questão indigesta é que, para o bem e para o mal, esses frutos são todos individuais... desde o começo...até o fim. Um abraço. João.