sexta-feira, 25 de julho de 2014

Ao amigo John

Tenho um amigo e faço questão de publicar seus comentários, como os de todos - como se eu tivesse um monte deles ... rs.
Mas me chamou a atenção o último, em que ele diz que fica em cima do muro, sem saber se é de esquerda ou de direita ...
Bem, Marx já dizia que, se você não é explicitamente contra o Kapital, é a favor. E eu já fui daqueles que "não gostava" de quem não era contra. Hoje, apenas sigo meu caminho e tento mostrar, muito sutilmente, mas ainda como um elefante em um jardim de suculentas, uma visão de mundo distinta da corrente.
Um artista, me parece, sente mais próximo o que um mundo sem arte representa, quando não encontra resposta para sua arte. Apenas alguns dados, em relação à literatura:
Quando eu estava na escola, antes do colégio, já tinha lido alguns livros interessantes. Memórias póstumas de Brás Cubas, por exemplo. E li outros, que mais tarde fizeram parte da "lista do vestibular". Livros que, quem quisesse entrar em uma boa faculdade, não importa para que, eram "obrigados a ler", porque caía na grande prova.
Hoje em dia, os vestibulares são baseados em resumos dos livros - ninguém mais lê nada. Não se sabe mais o que é literatura. Esse conceito, de arte universal, já se perdeu. Os clássicos, já não são mais reeditados. Quem quer um livro de um escritor, mesmo brasileiro, hoje, tem que buscar em sebos, rezando para encontrar.
No entanto, merdas e livros que não dizem nada, como os Potters, 50 tons de merda e afins, enchem as livrarias. Alguns tentam - o João Verde até agrada - mas, sem a profundidade dos mestres. São efêmeros.
Duvido que se ache, hoje em dia, uma edição nova de livros de Hemingway ou Julio Barreto. É uma tragédia.
A música já sofre disse há muito mais tempo.
Quando eu entrei na faculdade, há uns 20 anos, mais ou menos, eu era um ignorante musical. Não sabia os nomes das coisas. Mas eu ouvia música. Era músico, afinal. Compreendia coisas básicas, como seções (que dão forma a uma peça musical), ouvia o caminhar da harmonia, etc. O básico. Mas já havia me deparado com colegas que apenas liam as partituras.
Hoje, sinto que, no estertor da minha vida como professor universitário - já disse aqui que vão fechar meu curso - eu tenho que ensinar os alunos a ouvirem música. Eles não ouvem nada. E nem conhecem o básico.
Nem sei quantas vezes eu já ouvi as 32 sonatas de Beethoven, por exemplo. Os os concertos de Mozart, suas sinfonias e etc. Nem sei quantas vezes ouvi a história da música. Eu ouvi todas as obras de muitos caras, ao longo da história e me interesso para ouvir sempre, quando possível.
Uma música de 25 minutos, por exemplo, não é nada. Mas que dificuldade para fazer músicos (que já dão aula de música, inclusive) se concentrarem para ouvir 5 minutos de música, em aula. A música começa e eles começam a conversar ... não respeitam nem sua profissão!
Nunca ninguém se perguntou porque não sabem ouvir música, mesmo tendo passado pelo menos 16 anos na escola. O básico. E, hoje em dia, em que essa matéria é "obrigatória" nas escolas brasileiras, é só olhar o material dos cursos para perceber que, nem mesmo quem produz esse material, tem consciência do que é a linguagem musical. Não, não é apenas saber ler partitura ou arranhar uma flautinha ... desculpem, senhores pais, seus filhos e vocês continuarão a ser enganados, como em tudo.
Então, quem "sabe" o que se perde em um mundo em que a exploração e a falta de respeito são correntes, usuais e até mesmo incentivadas (hoje em dia, empreendedorismo é uma matéria escolar) não pode ser a favor disso. Informação não é conhecimento. Informação não é cultura. Nós podemos ter acesso à informação ... mas uma informação parcial que tem um profundo e enorme cunho ideológico. Basta ver os documentários sobre os gays no cinema, por exemplo. Esse conceito de "liberdade sexual", de "igualdade", foi trabalhado ideologicamente em filmes, seriados, novelas, etc. Perdoem-me, não sou contra gays, pelo contrário. Sempre defendi esse direito de liberdade de amar. Mas me pergunto porque não tomam esse tipo de atitude contra o mundo Kapital. Não trabalham ideologicamente para que essa condição terrível em que vivemos, mude.
Ah, lembrei. Porque não interessa a quem tem voz amplificada.
Dito isso, vou a mais um café.
E espero que algum jovem John tenha tempo e interesse em refletir sobre sua condição e, principalmente, na condição de vida dos demais ... daqueles que nem podem comer, nunca poderão ler e nem ouvir, de verdade, uma música. Daqueles que estão expostos e indefesos à vontade de poderosos, donos do mundo Kapital.
Bom café.

Copa e afins

A copa do mundo aqui no Brasil foi interessante ,,, uma festa ... eu, que gosto de futebol (o jogo) adorei ... vi muitos bons jogos e etc ... e o fiasco brasileiro, uma morte anunciada ...
Mas o evento marcou mais por outros motivos ...
Muita gente não conseguiu ver ... e gente ligada ao meio. Vários cronistas esportivos morreram antes - o que não deixa de ser irônico e surpreendente, como todas as mortes.
O que nos deixou realmente abalados foi a passagem de um amigo querido ...
Ele era mais amigo da minha esposa - trabalhavam juntos - e morreu de forma estranha. Foi internado às pressas e, depois de um mês, aproximadamente, no hospital, saiu apenas para ser incendiado no crematório da região. Eu senti.
Um cara de esquerda, como eu, que tinha muito a dar ... essa história de compartilharmos o mesmo tipo de pensamento é estranha ... não se pode dizer o quanto uma pessoa é contra o capitalismo ou a favor ... as pessoas, às vezes, julgam sem saber, de fato, as convicções do indivíduo. Não tivemos muitas discussões a esse respeito ... mas dava para perceber o caráter de seu pensamento ... ele pensava dialeticamente, sempre tentava ver os diferentes ângulos de uma questão. Vai fazer falta.
Eu poderia dizer mais, mas, de fato, não o conhecia bem ... ele foi o primeiro a desenhar alguns croquis para o estúdio - era um projeto mais ousado, que pensamos que seria mais barato para construir, com containers. Ficaram lindos, mas acho que eu não conseguiria me sentir bem dentro daquelas caixas pequenas ...
Quis o destino que ele não pudesse conhecer o resultado final, em madeira. Enfim, faz falta.
Eu imagino que talvez, quando eu me vá, algumas pessoas sintam a minha falta. Tentei, ao longo dos anos - e tento ainda - despertar a reflexão nas mentes dos que cruzam comigo ... por isso, muitas vezes, me acham chato ou inconveniente. Talvez, não sintam muita falta ... rs.
A gente sente mais falta de quem está presente diariamente ... eu, realmente, tenho tido pouco contato com as pessoas ... falta de paciência, ou um motivo real para estar ali. Não importa. Marcar a vida de alguém é algo que só o tempo nos mostra.
No caso do Arquiteto - nosso amigo era arquiteto - sua presença era marcante, mesmo à distância. E faz falta, principalmente nas reflexões que forçava engenheiros e burocratas que conviviam com ele, a fazerem.
Eu gostaria de ter tomado mais cervejas com ele, enfim. Foi um presente estranho para sua esposa - ele se foi no 12 de junho - e uma abertura de copa menos brilhante para os que o conheceram. Foda-se a copa ...
De resto, se as pessoas se preocupassem tanto com a educação e a saúde, como se preocupam com futebol, talvez tivéssemos um mundo melhor. Mas isso não serve a interesses ... refletir. E a mostra disso está no tipo de sociedade em que vivemos, em que temos muitíssima informação e zero reflexão, por falta de tempo. Essa corrida incessante que é a vida impede, em parte, que reflitamos sobre o que vemos, lemos ou mesmo vivemos.
Talvez essa seja uma lição que nunca aprendemos. E que esquecemos cada vez menos, principalmente nas instituições de ensino ... em que somos educados a correr, absorver "verdades" impostas, sem discutir, sem desconfiar.
Vivemos em uma mundo cada vez mais fascista ... ou seria coincidência que, hoje, se fale tanto de Hitler ou gente desse tipo? com admiração, é bom ressaltar. Na tv, então, é uma farra.
Mas, não quero ser chato ... rs ...
Vou tomar meu café quente nessa manhã fria e chuvosa ... pelo menos, as plantinhas se regozijam ...
Bom café.