quarta-feira, 15 de junho de 2011

Á Sera, in memorian

Realmente, eu nunca fui muito apegado às coisas e, por que não dizer?, às pessoas ... eu passo um tempo com um colega de trabalho, formamos uma amizade, por exemplo, mas eu não costumo cultivar isso depois que o vínculo se acaba.

Isso se manifestou bem cedo, na época de ter um bicho de estimação. Lembro-me de ter tido 2 cães, em momentos distintos: eram meus (teoricamente), mas eu mal sabia que eles estavam em casa ,,, não brincava nem interagia muito com eles. Ao crescer e ir morar só, nem mesmo essa solidão quase total, nem me passou pela cabeça ter um bicho. Lembro-me de, às vezes, conversar com os porteiros do prédio onde morava para não ficar uma semana sem falar com ninguém, exceto meus pais; e, com certeza, os que me conhecem sabem: eu brigava comigo mesmo para isso, porque não me fazia muita falta. Foi e é, para mim, um exercício diário, conviver fora de casa (ou melhor, do meu quartinho).

Isso mudou quando formei, com a esposa, uma família. Ela, sozinha, já me satisfazia: era uma família, aliás. Mas, quando vieram as crianças, novas surpresas e uma mudança aguda de perspectiva. Uma delas: o retorno do PET.

O primeiro bichinho da Virga foi um hamster, chamado de Esquilinho, por causa do personagem "invisível" do "A Era do Gelo 2". Ele morreu depois de algum tempo conosco (quase 2 anos, seu tempo de "vida útil"). Foi difícil contar pras meninas. Aliás, é um assunto que dá uma longa discussão esse "treinar para as futuras perdas" que um PET pode dar aos pequenos (e a nós também, claro).

Depois de algum tempo, a Virga pediu uma gata. No dia de seu aniversário de 6 anos, ela foi escolher. Achou uma linda gata preta, filhote ainda, que chamou de Seraphina (fez questão do PH). Tenho um poster do famoso bar "Le Chat Noir", de Paris, com um gato em uma pose que, diriam alguns, o modelo era a própria Sêra ... (assim a chamávamos, carinhosamente).

Depois de algum tempo (uns 13 meses, mais ou menos) ela passou a ter alguns sintomas e parou de comer ... faleceu hoje, às 8 e 15 da manhã. Foi amada e teve uma família. A Mary cuidou dela até o final, com garra e perseverança e, se ela durou 2 semanas a mais, foi, sem dúvida, esse o motivo. As explicações podem ser várias, mas a que acreditamos é que ela tivesse um parasita no sangue, transmitido pela mãe dela, que a debilitou ... deixou-a anêmica até o fim. Tentamos de tudo ... até mesmo alimentá-la com seringa na boca, contagotas, etc ... perdemos. Fica essa certeza: ela teve uma família.

Senti a morte dela. E é curioso ... vai me fazer falta de manhã, brigar com ela pelo meu sofé. Na verdade, eu já sentia falta, porque há uns 2 meses ela já não tinha forças pra nada, quase. Queria, mas não podia.

É por essas e outras que devemos amar sempre (e é babaca mesmo!) e viver intensamente, porque não há amanhã. Embora o depois de amanhã seja muito provável, então temos que manter o mínimo de responsabilidade ... hehehe. Mas devemos desfrutar com as pessoas que amamos e queremos ... devemos ser felizes, ainda que isso seja possível naquele minuto do dia, apenas. E isso começa por aceitar e amar. Da mesma maneira que aceitamos um ser de outra espécie entre nós, como um dos nossos, devemos ouvir melhor nossos companheiros de viagem, aceitá-los melhor e tornar-nos acessíveis a eles também, embora o mundo Kapital nos force sempre ao contrário: temos que competir entre nós mesmos para sobrevivermos ... e aceitamos isso como verdade!

Mas não quero brigar com ninguém nem falar de mais nada: queria, mesmo, afagar a Sera no colo, de manhã, até ela encher o saco e sair do sofá ... rs. Não vai dar mais. Um beijo, Serinha ... a gente vai se encontrar ainda ...

Sem café hoje, embora eu tenha tomado uns quantos, já.


Um comentário:

Anônimo disse...

Eu sou exatamente assim: Crio grandes vínculos com as pessoas enquanto convivo com elas, mas depois se elas não me procurarem, geralmente não as procuro.Só se criei um laço de amizade real, se não ,nem procuro saber mais.É assim por onde passo também. Não morro de suade dos lugares, dos trabalhos, não fico lembrando com nostalgia.Sinto falta do essencial, não do todo. Talvez eu seja psicopata,rs. Quanta a gatinha, ainda bem que ela teve uma família que a amava tanto!Ah, a propósito, não sei se importa, mas estou em outro blog agora: http://pedacosdela.blogspot.com