segunda-feira, 24 de maio de 2010

O primeiro de Maio

E primeiro lugar quero dizer que nem lembrava mais a senha deste lugar aqui. E olha que, quando comecei, tinha a intenção de escrever sempre, manter um diário ... mas tenho pensado pouco ... isso deixa pra próxima ...

Sempre, todo ano eu tento, pelo menos, manter um ritual, nos dias 1 de maio. E isso, há 9 anos. Porque foi uma viagem emblemática.

Eu e a minha esposa (ou o melhor: ela e eu, porque ela foi, eu fui atrás) tivemos a experiência de morar em Madri. Ela fora fazer um curso e eu, me preparar para o que eu queria fazer, do ponto de vista acadêmico. Fui ler "O Capital".

Coincidiu que, en el puente de mayo (ou seja, no feriado do 1 de maio), a passagem para Paris caiu para uns 30 dolares (e a gente pagava tudo em peseta, o que era mais barato - putz! foi antes do euro isso ... tô véio ...) ... e ficamos em um hotel (num bairro periférico) pelo convênio aqui do Brasil, ou seja, de graça.

E, durante 1 semana, eu conheci uma Paris inacreditável, para mim (acho que nunca mais vou vê-la assim ... sinceramente, detesto-a). Eu havia lido o livro Chopin em Paris, que é uma biografia ímpar, e visitamos todos os lugares em que ele morou. Por fim, no primeiro de maio, fomos ao túmulo dele e depositei, ali, duas rosas.

Mas, essa é a história romântica de uma Paris primaveril, com seus museus (que visitamos todos, inclusive o da Música - e foi lá em que toquei no piano do próprio Chopin), etc. Sempre tem o outro lado. A Paris burguesa e fascista.

Nessa viagem, encontrei em CD, obras incríveis de músicos da luta anticapitalista: a obra completa do Eisler, por exemplo. E um disco de gravações documentais sobre a luta contra o capital (discursos, hinos, etc). A partir desse dia, faço, em todos os 1 de Maio, uma hora de resistência, ouvindo essas coisas, de gente consciente e corajosa.

E isso se deu porque, no dia 1 de Maio, íamos sair do hotel pela manhã, e perguntei à porteira onde eram os protestos típiocs desse dia. E ela disse que "não havia isso na França". E, para todos os que perguntávamos, respondiam da mesma maneira.

A TV francesa mostrou protestos em Madri e na Turquia e não mencionou nada, em relação à França. Como se, realmente, não existissem manifestações.

Mas a TV espanhola que vimos no quarto francês, em Paris, mostrou o quanto havia de discontentes em Paris. O número de pessoas que tomaram a avenida principal da "cidade luz", pela manhã. E em outras cidades francesas.

Hoje, percebemos que, já naquela época, o espírito fascista estava presente nessa gente: logo depois, elegeram uma espécie de novo Hitler - ele defende, mesmo, a purificação da raça. Enfim, é isso. Estamos em um ponto desses.

O meu silencioso protesto é me dedicar às coisas que acredito de forma romântica, durante uma hora, no 1 de maio, de todos os anos. Uma versão dialética desse espírito parisiense que vi, senti, e conheci através da biografia de Szulc e das histórias de Hemingway, e do espírito revolucionário que, com certeza, dialéticamente, ainda existe em muitos franceses, comme il faut.

Bom café.

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